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Luto, momento de elaborar uma perda.

  • Foto do escritor: Jesse Cardoso
    Jesse Cardoso
  • 11 de jan. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de mar.

"Para a maioria das pessoas, o amor é a fonte de prazer mais profunda na vida, ao passo que a perda daqueles que amamos é a mais profunda fonte de dor. Portanto, amor e perda são duas faces da mesma moeda" (Colin Murray Parkes).


Flores, velas, funeral.

O luto é um estado emocional decorrente da perda de um vínculo importante, “de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela, como pátria, liberdade, ideal”, diria Freud.


Numa sociedade que tem como imperativos a alegria, consumismo, produtividade... o luto (com os seus sintomas de tristeza, recolhimento, desânimo, medo, ansiedade, entre outros) acaba por não ter espaço de escuta e acolhimento em muitas relações.


A pessoa enlutada pode se culpar por estar nesse estado que não se adequa ao que é exigido socialmente. Porém, isso que ela está sentindo e vivenciando diz da perda de alguém ou de algo de valor em sua vida. Viver esse recolhimento da energia para lembrar de quem ou o que se perdeu é algo importante para passar por esse momento difícil.


O luto carrega uma tristeza que demanda ser chorada, uma perda que merece espaço e tempo para ser narrada e escutada, assim como boas lembranças a serem nutridas e transmitidas, gestos a serem compartilhados, não ditos a serem expressados, daí a importância de relações que possibilitem uma escuta da pessoa enlutada. Caso não seja o suficiente, é indicado a psicoterapia para ter um espaço seguro de acolhimento e escuta sem julgamentos.


Freud observa que para elaborar o luto é necessário fazer um trabalho interno de falar o quanto for necessário a respeito de quem ou o que se perdeu, não há um limite temporal para isso, cada um carrega a sua necessidade singular, que diz do quanto a perda dói e demanda ser narrada e escutada. Manuais sobre o luto não se aplicam a todos os casos, não há uma normatividade para o luto, ele não tem um tempo definido, cada dor é diferente, demanda um tratamento diferente.


Narrar a perda e receber um acolhimento a essa narrativa possibilita um alívio no sofrimento, é o trabalho de luto que proporciona elaborar e criar uma narrativa a respeito de quem se foi, do quanto foi importante para si e marcou a sua vida (REIS, 2023). Dessa forma, é possível dar um alívio para isso que grita o buraco da falta, é possível respeitar o tempo necessário para que a ferida seja tratada, é possível chorar o que tiver que chorar, é possível tornar as boas lembranças decorrentes de algo bom recebido em algo bom transmitido, é possível um acolhimento para essa dor que demanda ser contada e recontada...


Para finalizar, deixo uma reflexão sobre o processo de luto pela médica Ana Claudia Quintana Arantes (2019, p. 195): "a dor do luto é proporcional à intensidade do amor vivido na relação que foi rompida pela morte, mas também é por meio desse amor que conseguiremos nos reconstruir".


REFERÊNCIAS

  • ARANTES, Ana Claudia Quintana. A morte é um dia que vale a pena viver. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

  • FREUD, Sigmund. Luto e MelancoliaEdição Standard Brasileiras das Obras Completas de Sigmund Freud, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1917 [1915]/1974.

  • HOLLIS, James. Os pantanais da alma: nova vida em lugares sombrios. 1. ed. 8ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2022.

  • PARKES, Colin Murray. Amor e Perda: as raízes do luto e suas complicações. Trad. Maria Helena Pereira Franco. Editora: SUMMUS, 2009.

  • REIS, Cristine, 2023. Trabalho do luto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Re82F2DYAxU&t=3s&ab_channel=PsicologiaDecolonial. Acesso em: 12/01/2024


 

Jesse Rodriguez Cardoso é psicólogo clínico, mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), atende presencialmente em Porto Alegre e de forma online brasileiros do mundo todo. CRP 07/33956.


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