Ansiedade e ataque de pânico: similaridades, diferenças e tratamento.
- Jesse Cardoso
- 17 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de mai. de 2024

A ansiedade e o ataque de pânico são experiências distintas, embora estejam relacionadas.
A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de estresse, perigo ou preocupação. É comum sentir ansiedade em situações desafiadoras, como entrevistas de emprego, exames, ou durante mudanças significativas na vida. Porém, quando a ansiedade é persistente pode causar sintomas como inquietação, tensão muscular, tremores, dificuldade para se concentrar e insônia. A diferença entre a ansiedade normal e a patológica é a intensidade e frequência dos seus sintomas. Segundo Goldgrub (2010), Freud faz a separação entre ansiedade realística e neurótica, a primeira tem uma função adaptativa ao preparar o organismo para o perigo, já a segunda seria prejudicial pois não estaria ligada a um perigo eminente, mas sim a um medo que tem origem psicológica. Nesse sentido, há uma dupla origem da ansiedade, uma decorrente do momento traumático, e a outra, numa sensação de que esse momento vai se repetir.
O ataque de pânico é uma ocorrência súbita e intensa de medo ou desconforto intenso, acompanhado por sintomas físicos como palpitações, sudorese, tremores, falta de ar, náusea e sensação de descontrole. As crises de pânico podem acontecer sem aviso prévio e podem ser muito assustadoras para quem as vivencia. Segundo o CID-10 (p. 24) o ataque de pânico está ligado a um transtorno grave de ansiedade. Sobre isso, Bernik (2012) fala "bastam 30 segundos para o paciente, que estava se sentindo bem, ser tomado inexplicavelmente por sintomas que, de certa forma, todos conhecemos: boca seca, tremores, taquicardia, falta de ar, mal-estar na barriga ou no peito, sufocamento, tonturas. Muitas vezes, tudo isso vem acompanhado da sensação de que algo trágico, como morte súbita ou enlouquecimento, está por acontecer. Nesses casos, é comum a pessoa ter uma reação comportamental de pânico e sair à procura de socorro. Aliás, a sala de espera dos prontos-socorros é um dos lugares onde o médico mais se depara com transtornos de pânico."
Embora ambas as condições envolvam sentimentos de medo e desconforto, a ansiedade é mais duradoura e geralmente está associada a preocupações específicas, enquanto as crises de pânico são episódios agudos e intensos que surgem repentinamente e que não têm as suas causas tão definidas, sendo necessário um processo de análise para investigar o que poderia estar causando as crises. Porém, alguns estudos indicam que causas comuns para as crises de pânico são "situações extremas de estresse; crises financeiras; brigas; separações ou mortes na família; experiências traumáticas na infância ou depois de assaltos e sequestros" (XIMENES, 2021, p. 5).
O tratamento do ataque de pânico pela psicanálise envolve uma abordagem profunda e exploratória que visa investigar raízes inconscientes e padrões emocionais subjacentes à crise que desencadeia os sintomas. Durante as sessões, o paciente trabalha com um psicanalista para explorar experiências passadas, traumas, conflitos internos, medos do futuro e dinâmicas inconscientes que podem contribuir para as crises de pânico.
O processo terapêutico na psicanálise envolve sessões regulares nas quais o paciente é encorajado a falar livremente sobre seus pensamentos, sentimentos e experiências. Ao longo do tempo, possibilita um maior entendimento de sua história e da dinâmica que está por trás do que desencadeia a ansiedade ou a crise de pânico, permitindo ao paciente compreender melhor como esses sintomas se enlaçam com aspectos inconscientes do seu funcionamento psíquico, com sua história de vida ou com medos de diversos tipos.
Para finalizar, deixo uma citação de Freud (1924, p. 157) a respeito da coragem necessária para iniciar um processo psicoterapêutico: "Ele precisa criar coragem para ocupar a sua atenção com as manifestações de sua doença. A doença em si não pode mais ser algo desprezível para ele, deve ser antes um adversário digno, uma parte de sua essência que se apoia em bons motivos, de onde se trata de buscar algo valioso para a sua vida futura".
Referências:
BERNIK, M. (2012). Síndrome do pânico | Entrevista. [Weblog].https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/sindrome-do-panico-entrevista/
FREUD, Sigmund (1914). Lembrar, repetir, perlaborar. In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Tradução Claudia Dornbusch. -2. ed.: 4. reimp - Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
GOLDGRUB, Franklin. As teorias da ansiedade e das pulsões em Freud. Psic. Rev. São Paulo, volume 19, n.1, 11-32, 2010.
Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. CID 10. Brasília: DATASUS, 2021.
SIMÕES, Alexandre. A ansiedade entre nós, hoje. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8OEdd1MXJJg.
XIMENES, S. et. al (2021). A psicanálise na desconstrução dos gatilhos para o transtorno de pânico. Research, Society and Development, v. 10, n. 3, e31010313265, 2021.
Jesse Rodriguez Cardoso é psicólogo clínico, mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), atende presencialmente em Porto Alegre e de forma online brasileiros do mundo todo. CRP 07/33956.
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