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"Estudos Decoloniais"

Ministrei uma palestra sobre “Estudos Decoloniais” na
XXVI Semana Acadêmica de Psicologia - Múltiplos lugares de produção da Subjetividade e manifestos no coletivo (URI, Campus de Santo Ângelo), com mediação da professora Andrea Fricke.

Falei sobre como a colonialidade é um sistema que naturaliza violências, tornando essas violências banalizadas e até glorificadas no cotidiano.

Apresentei alguns valores europeus que hierarquizam o mundo entre homens e animais, homens e mulheres, brancos e não brancos, cis-héteros e LGBTs+, ricos e pobres, civilizados e primitivos, razão e emoção, mente e corpo...

Essas hierarquias instituem hegemonias ligadas a normatividades em que o valor e reconhecimento ficam só num polo da relação, não vou pela perspectiva de inverter a lógica dizendo que tudo que vem do molde de poder global europeu é ruim e não tem valor, o que questiono são as hegemonias e normatividades advindas desse molde.


Analisei como a implementação dessa hegemonia se deu através de genocídios históricos carregados de epistemícidios a saberes de mulheres, judeus, muçulmanos, indígenas e africanos:

- Contra mulheres acusadas de bruxaria, as quais eram queimadas vivas junto com os seus saberes orais de origem indo-europeia. Movimento que se intensificou no período de 1550 a 1660.

- Contra muçulmanos e judeus na Espanha (séc. XVI), assassinato, expulsão ou conversão deles em Al-Andalus.

- Contra indígenas do continente americano, primeiro, e, depois, contra aborígenes asiáticos.

- Contra africanos aprisionados em seu território e, posteriormente, escravizados no continente americano.

A psicologia está entrelaçada com a colonialidade quando é utilizada para justificar e reiterar as normas da branquitude, burguesia, patriarcado, cis-heteronorma, classismo, capacitismo...

Sobre os afetos ligados à colonialidade falei sobre um processo de monstrualização da diferença para naturalizar violências. E sobre como o trauma ferencziano ocorre quando essas violências não são reconhecidas, às vezes entrando num discurso de culpabilização da vítima. Ferenczi (1992) traz a importância de nomear a violência para reconhecimento da ferida narcísica gerada pelo trauma. O que inscreve o trauma é o desmentido, é negar que existiu uma agressão, algo que gera confusão na vítima e a internalização de uma culpa pela agressão que veio do outro. Reconhecer a violência possibilita tratar a ferida, para tanto, é necessário um espaço seguro como a terapia, onde essas dores podem ser acessadas com um profissional qualificado para escutá-las.

Já como descolonização falei sobre pluralizar as nossas referências, desnaturalizar as violências (reconhecendo a dor da vítima e nomeando quem agride). E finalizei falando sobre a necessidade de construirmos teorias atravessadas por questões do nosso território e que valorizem e promovam os nossos intelectuais.

Referências:
- ACHEBE, Chinua. Dizendo nosso verdadeiro nome. Em: A educação de uma criança sob o protetorado britânico. São Paulo: 2012b, p. 60-72.
- BENTO, Cida. O pacto da branquitude. 1º ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
- DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Candiani, Heci Regina. São Paulo: Boitempo, 2016. 244p.
- EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In: DUARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado (org.). Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. 1 ed. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020.
- FERENCZI, Sándor. Obras completas, Psicanálise IV. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1992.
- GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Trad. Marcela Vieira e Eduardo Jorge de Oliveira. Edit. Bazar do Tempo, 2021.
- GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado – Volume 31, número 1, janeiro/abril, 2016.
- QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires, 2005.
- Reconta aí, 2019. Racismo prejudica negros e negras na economia. Disponível em: https://recontaai.com.br/racismo-prejudica-negros-e-negras-na-economia. Acesso em 13/09/2023.


 

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